25 de agosto de 2015

Outras cozinhas


Luxos como o do silêncio e do sossego são cada vez mais raros e difíceis de alcançar. Se a esse silêncio e sossego somarmos o luxo da simplicidade, algures entre o despojamento e a opulência, estaremos a falar de um lugar tão perfeito quanto improvável para exercícios epicuristas (epicurismo é a «doutrina moral de Epicuro, filósofo grego do século III a. C., que identificava o bem com o prazer, e postulava que este resultava da prática da virtude, da cultura do espírito, e não do gozo grosseiro dos sentidos», Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea) e sensuais.

Improvável?


Improvável é o nome do restaurante do empreendimento Imani – Casa de Campo, situado na Quinta de Montemuro, a 3 ou 4 km do Cromeleque dos Almendres, perto da povoação de Guadalupe, concelho de Évora. E se falamos aqui do restaurante, é enquanto elemento de um conjunto, dele não se destacando, antes o integrando harmoniosamente. Não há nada a destacar no Imani. É a sua totalidade que se destaca.


Os quartos e suítes, apenas 7, diferentes entre si e não só na decoração, mas também na concepção do espaço; as salamandras e lareiras que surgem como uma promessa invernal; a piscina circular e o espaço circundante; os dois burros; a maravilhosa piscina pequena, ao fundo do carreiro que se prolonga naquilo a que nos habituámos a chamar o recanto da leitura, sob as árvores; o pequeno jardim; os pomares circundantes, mais secos no Verão, verdejantes no Inverno; o espaço de repouso no exterior das suítes; o ruído de água a correr; o alpendre do «honest bar», onde a meio do dia nos podemos proporcionar o festim de umas tostas imensas e uma bebida fresca, mas onde também se pode jantar e ficar noite dentro à conversa; a afabilidade sóbria de todos os que ali trabalham.


O restaurante tem uma ementa muito breve e bem definida que, porém, exprime uma cozinha correcta e sem efabulações excessivas. O que lá se come é bom e bem confeccionado. O que lá se bebe é igualmente bom, com destaque para a gama de vinhos do enólogo e produtor Paulo Laureano, que também assina o vinho da casa: o Improviso.

O Imani não é mais um daqueles chamados lugares de sonho. É um lugar bem real.

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