Qualquer fumador de charutos, seja ele mais ou
menos regular, tem, no espaço ibérico, um profundo respeito reverencial pelos
puros cubanos. E os habanos são, de
facto, especiais. O terroir, a folha,
a mestria, as mitologias, tudo contribuiu para o seu estatuto intocável.
O facto de a empresa de tabacos espanhola
ocupar uma posição privilegiada na sua congénere cubana e ser sujeita a uma carga fiscal
diferente da nossa, permitiu durante muito tempo que o país vizinho
beneficiasse de preços excepcionais. Era possível ir a Espanha comprar caixas
de charutos, ou até encomendar pelo correio.
Porém, o tempo de ter em casa, para dar um
exemplo sublime, uma caixa de Torpedos Sancho Panza, acabou, pelo menos para
uma boa parte dos apreciadores. O fumador de charutos também tem sofrido
amargamente com a fiscalidade lusa e com a crise. Agora, com a reaproximação
dos EUA com Cuba, as coisas vão certamente piorar. Os charutos cubanos serão certamente
mais caros e cada vez mais raros.
Em contrapartida, esta situação fez com que
pudéssemos descobrir os mercados alternativos, e cada vez mais importantes, da
produção sul-americana. Desde logo, as produções da República Dominicana, para
onde alguns dos antigos produtores cubanos se mudaram depois da revolução. Mas,
hoje, muitos outros países produtores se impõem pela qualidade. É o caso da
Nicarágua, que começa a marcar uma presença muito forte no mercado
internacional.
Destacamos aqui o caso dos charutos Oliva. Reza a história que
Melanio Oliva foi produtor de tabaco em Cuba, desde 1886, tendo participado
inclusivamente na guerra de independência, sendo a produção, posteriormente,
dirigida pelo seu filho. Após a revolução e o domínio comunista, o neto
Gilberto acabou por fixar a produção na Nicarágua a partir de sementes de
tabaco cubano, tornando-se o segundo maior produtor daquele país. Vale a pena explorar o universo Oliva, de que
continuaremos a falar aqui.
*Puro
humo é o título de um livro fundamental do escritor cubano Guillermo
Cabrera Infante (1929-2005).
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