A sub-região do Douro Superior representa 44%
da totalidade da área demarcada e, além da vinha, por lá continua uma
importante e antiga cultura de olival. O clima mediterrânico adquire nesta
sub-região características continentais, que a tornam a mais árida de todas,
chegando a ser necessário recorrer a irrigação para obter o grau de maturação
das uvas pretendido. Os terraços são mais homogéneos e o solo xistoso é menos
rijo, podendo ser mais facilmente partido em pequenos pedaços. Produzem-se aqui
vinhos da maior qualidade.
A Quinta de Lubazim fica na margem direita do
Douro, em terras alto-durienses e transmontanas, e tem história e pergaminhos
que remontam aos primórdios da nacionalidade, que a origem arcaica do seu próprio
nome testemunha, pertencendo ao senhorio da família dos actuais proprietários
desde meados do século XIII.
Não admira, por isso, que os rótulos dos
vinhos aqui produzidos procurem ostentar a linhagem e ancestralidade da família
que orgulhosa e louvavelmente mantém a tradição. No entanto, sem abdicar dos
símbolos e valores próprios, a imagem gráfica poderia ser revista e actualizada
de modo a adquirir maior legibilidade e impacto competitivo. Mas os rótulos, neste
contexto, são apenas um detalhe.
Os vinhos da Quinta de Lubazim, empresa com
sede em Vila Flor (ver video), acompanharam a acção promocional das Conservas Luças, em que
o Verde Azeitona participou. Foi uma revelação, pois não conhecíamos nenhum dos
vinhos, nem sequer por referência.
Tivemos oportunidade de provar o Lupucinus
Branco Selection 2013, o Lupucinus Tinto Selection 2013, e o Quinta de Lubazim
Grande Reserva 2009.
O Lupucinus branco (feito com Arinto, 40%;
Viosinho, 30% e Gouveio, 30%; teor alcoólico12,5o) revelou-se um
vinho de cor citrina e franca, frutado e bastante aromático, a que a acidez dá
uma vivacidade e frescura surpreendentes e o torna persistente na boca – é um
vinho que «enche» a boca –, tem bom volume e estrutura. Está um belo branco
que, do ponto de vista gastronómico, se é bom companheiro do peixe em conserva,
em condições de refrigeração adequada aguenta muitíssimo bem até uma carne
assada de tempero forte.
O Lupucinus tinto (Touriga Nacional, 45%;
Touriga Franca, 30%; Tinta Amarela, Sousão e mais 40 variedades, 25%; teor
alcoólico14,5o) é um vinho não filtrado (apresentou depósito, pelo
que convém decantá-lo), de cor retinta, com boa concentração. No nariz
apresenta-se ainda um pouco fechado; na boca também não se revela
imediatamente, mas apresenta notas florais e alguma ameixa preta. A estrutura
não desacompanha o teor alcoólico, o que é bom sinal, sem, no entanto, deixar
de ser um vinho muito macio, tudo qualidades indubitáveis que podem talvez
ainda evoluir em garrafa.
Por fim, o Quinta de Lubazim Grande Reserva
2009. Segundo informação do sítio de internet (não da garrafa) – que nos
perdoem os produtores, também precisa de cuidados –, é feito com Touriga
Nacional (40%) e Touriga Franca (30%) a que se juntam outros 30% de Vinhas
Velhas (?!). Exibe, sem vergonhas, um teor alcoólico de 14,5o. É um
vinho retinto, com boa concentração e aroma franco. Sem termo de comparação com
as colheitas anteriores, não nos é possível notar diferenças, mas é um vinho
com boa estrutura, bem proporcionado na relação entre acidez e fruta (silvestre)
e a intensidade das notas florais, que lhe dá complexidade. Não se dá muito
pela madeira, mas pode isso querer dizer que está bem integrada. O tempo — «esse
grande escultor», disse Marguerite Yourcenar — ter-lhe-á talvez acentuado a maciez,
sem lhe fazer perder o carácter. Está na altura de o consumir, pois pode estar
prestes a atingir o auge da evolução em garrafa, e está muito bom.
Fica a curiosidade de provar os outros vinhos
da casa, precisávamos era de saber onde se podem encontrar. Mas, torcendo um
pouco o ditado, podemos acreditar que quem procura sempre alcança…
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